Luís Carlos Prestes em 1927 (Fonte: Acervo O Globo/Reprodução) |
Como um corajoso capitão apaixonado por uma misteriosa espiã incendiou o país e travou um duelo mortal com um ditador.
Você bem sabe, o ser humano se torna interessante na exata medida que se envolve em tretas.
E o Luís Carlos Prestes foi um nome que se envolveu em tretas seculares.
Foi um militar, revolucionário e uma das estrelas da Coluna Prestes, do Movimento Comunista e das revoluções de 1924 e 1935.
Ainda deu as caras como senador por um tempinho.
Foi definido pelo apresentador Jô Soares como um homem "acima do bem e do mal".
Quer saber como foi essa história?
Então, se liga:
Quer saber como foi essa história?
Então, se liga:
Os primeiros passos de Prestes
Luís Carlos Prestes.
Esse nome é cheio de ressonâncias e segredos.
Pessoas de todos os lados sempre se perguntam sobre seu legado.
Mocinho ou bandido?
"Cavaleiro da Esperança" ou terrorista?
São perguntas muito válidas e a discussão é importantíssima.
A ideia deste post é dar uma luz sobre o assunto.
Tem uma parada que eu quero deixar claro.
Esse nome é cheio de ressonâncias e segredos.
Pessoas de todos os lados sempre se perguntam sobre seu legado.
Mocinho ou bandido?
"Cavaleiro da Esperança" ou terrorista?
São perguntas muito válidas e a discussão é importantíssima.
A ideia deste post é dar uma luz sobre o assunto.
Tem uma parada que eu quero deixar claro.
A receita para conjurar um Prestes não é açúcar, tempero e tudo o que há de bom.
Está mais para sangue e suor de anos de tretas, positivismo, insurreições e revoluções.
Será que o lugar de onde Prestes veio importa?
A resposta é sim.
E você já vai entender o porquê.
Por enquanto, só se lembre que ele veio do mesmo lugar que Luis Fernando Verissimo, Elis Regina e Daiane dos Santos.
A resposta é sim.
E você já vai entender o porquê.
Por enquanto, só se lembre que ele veio do mesmo lugar que Luis Fernando Verissimo, Elis Regina e Daiane dos Santos.
Foi um porto-alegrense praticante.
Desde moleque, o Prestes já era nerd e tinha interesse por filósofos franceses.
Gente do naipe de Diderot e Rousseau.
É mole?
Se tornou um jovem militar na Escola do Realengo.
Onde fez amizade com os manos que dariam início a uma parada chamada "tenentismo".
Anota aí porque esse nome é importante.
Você já vai saber o que é...
Em 1921 ele virou instrutor e passou a ter uma voz mais ativa.
Chegando a atuar em algumas super tretas da década.
Ele ainda não era um marxista, mas já era um revolucionário.
Mas antes de contar como isso aconteceu, vamos primeiro ver o que estava acontecendo no país na época...
Mas antes de contar como isso aconteceu, vamos primeiro ver o que estava acontecendo no país na época...
O contexto é a tal da república do café com leite.
Se você ficou traumatizado com esse termo na escola, pode ficar de boa que aqui a explicação vai ser diferente.
As partes do país que queriam botar ordem eram São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
A galera de São Paulo e Minas Gerais era mais liberal.
Mas isso só ficou na teoria, como você vai ver...
Eles pensavam diferente na galera do Rio Grande do Sul.
Esses caras eram diferentões.
Mais positivistas e acreditavam no inverso.
Ou seja, que o governo era imprescindível para por ordem na bagaça e "controlar a desorganização"
O próprio pai do Luís Carlos Prestes era um positivista!
Isso vinha das ideias do tiozão Auguste Comte.
Esse cara também influenciou na proclamação da república.
Na época, tinha uma oligarquia.
E o que raios é isso?
Na prática, é quando uma mesma turma dá um jeito de ficar no poder.
No caso, representantes de São Paulo e Minas.
São Paulo era influenciada pela elite do café.
Representada pelo PRP, um partido que existia há um baita tempo.
Os manos da burguesia que sustentava o partido ajudaram até na proclamação da república, mano!
Minas Gerais era influenciado pela elite dos criadores de gado.
Daí vem o nome maneiro, "café com leite".
Tinha uma turma mais de classe média urbana que queria mudar os paranauê e votava em gente como o tiozão Ruy Barbosa
Isso foi tornando o poder dos manos da oligarquia mais instável
Eles tiveram que se virar no jiraya para se manter na presidência.
O "tenente" corajoso
Essa parada ficou ainda mais instável depois de 1921.
Foi quando a turma do café com leite lançou o mineiro Artur Bernardes para presidência.
A oposição vinha do Rio Grande do Sul e lançou o Nilo Peçanha, um florianista.
Os florianistas eram os caras que seguiam as ideias do tiozão Floriano Peixoto.
Essa galera dizia que os manos do São Paulo e Minas Gerais estavam trolando a população.
Isso seria feito por esquemas para manipular o preço do café e enriquecer os políticos.
O Artur Bernardes começou até ter umas tretas hardcores com os militares.
Isso por causa de uma fake news.
E você achando que isso era coisa de tiozão de Facebook!
O conteúdo seriam cartas supostamente escritas pelo Artur Bernardes metendo o pau nos militares.
Foram publicadas em um jornal da época.
Depois a galera descobriu que eram fakes.
Mas aí o estrago já tinha sido feito.
Vai vendo...
O Artur Bernardes foi eleito — mas os militares ainda estavam pistolas com ele.
Na época, tinha um tal "clube militar".
Aliás, existe até hoje.
Essa parada foi fundada lá em 1887 e conta com um certo prestígio da galera militar.
O clube protestou contra alguns atos do governo.
E ainda prenderam o Hermes da Fonseca — presidente do clube na época.
Era admirado entre os militares e sobrinho do Marechal Deodoro — que além do nome de uma rua, foi nosso primeiro presidente.
Foi o começo das tretas que deram início ao tenentismo.
Então, vamos ver como isso aconteceu...
Então, vamos ver como isso aconteceu...
A primeira revolta foi uma parada chamada "Os Dezoito do Forte".
Uma turma de militares decidiu protestar no Forte de Copacabana.
Alguns se renderam, mas no final ficaram 18 pessoas.
17 militares e um civil
Desses, só sobraram duas pessoas.
O resto morreu na troca de tiros.
Esse foi o estopim das tretas entre os militares e a galera da oligarquia
E começou a constituir o tenentismo
Segundo o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, esse movimento durou até 1935, mano!
É mole?
Precedeu a crise que derrubou a galera da oligarquia e provocou a revolução de 30.
Papo para outro post...
O nome veio porque os membros eram conhecidos como "tenentes".
A maioria nem era tenente de fato, mas o marketing do movimento foi bom.
Em 1924 começou uma outra revolução.
Essa foi mais bem preparada.
O objetivo era pôr o Artur Bernardes para correr.
Essa treta estourou em São Paulo com a presença do Miguel Costa.
E no Rio Grande do Sul com a presença no próprio Luís Carlos Prestes.
Tinha sido promovido a capitão em 1922 e já podia meter bronca.
Essa turma se encontrou no Paraná e se transformou na "Coluna Miguel Costa-Luís Carlos Prestes".
Ou "Coluna Prestes", para os íntimos.
Essa galera tinha um pesamento inicialmente conhecido como "salvacionismo".
E o que raios é isso?
A resposta é simples — tirar o poder da turma das oligarquias de onde tinha desigualdade social.
A ideia vinha do tiozão Hermes da Fonseca
E passava por algumas coisas, como:
- derrubar o Artur Bernardes;
- conseguir o voto secreto;
- acabar com a corrupção;
- dar fim às fraudes eleitorais;
- ter representatividade;
- ter liberdade de imprensa.
E por aí vai...
Polêmicas dos "tenentes" em 1931. (Fonte: Acervo Folha de S.Paulo/Reprodução) |
Mas nem tudo são flores.
Essa turma não pregava o tal "liberalismo autêntico" e, segundo o historiador Boris Fausto, insinuavam uma "via autoritária".
Eram contra, por exemplo, o sufrágio universal.
Ou seja, a noção de que todas as pessoas tinham direito ao voto.
Ainda assim, o Prestes e o Miguel Costa deram um jeito de caprichar na publicidade do movimento.
Escreveram uma parada chamada "Motivos e Ideais da Revolução".
Fizeram um apanhado das ideias que defendiam para compartilhar com a galera.
Indo contra impostos abusivos e a favor do ensino universal.
Seja como for, essa galera marchou por 24 mil fucking quilômetros!
Seguiam o que o Prestes chamou de "tática da guerra de movimento".
E você com preguiça de fazer uma caminhada até a esquina...
Tretaram com policiais, tropas do governo e até cangaceiros!
Ganharam um baita apoio da população mas nunca chegaram ao poder.
A marcha deu ruim.
Se dispersou lá para 1927.
Cada um foi para seu quadrado.
A maioria, para vizinhos nossos como a Bolívia e o Paraguai.
No final, o Prestes se tornou uma espécie de "celebridade militar".
Mas seu caminho foi um pouco diferente dos outros "tenentes", como você vai ver...
A entrada para o comunismo
Lembra de quando você viu na escola umas paradas sobre a "crise de 29"?
Foi a chamada "grande depressão".
Então, essa parada também chegou no Brasil.
E atingiu os poderosos oligarcas.
Deu ruim para eles.
Isso representou a "crise da sociedade agroexportadora".
Nomezinho difícil, né?
Ela enfraqueceu o poder da turma do café.
E resultou na revolução de 1930.
Onde uma galera do Rio grande do Sul se juntou à turma do movimento tenentista para chegar ao poder.
A liderança do movimento ficou nas mãos do Getúlio Vargas.
Só que o Luís Carlos Prestes não quis fazer parte.
Teve até um papo entre o Vargas e o Prestes antes da revolução.
Nesse ano, comunicou que havia se tornado "socialista revolucionário".
É mole?
O cara via o movimento do Getúlio como uma espécie de expressão "imperialista".
Lembra de quando falei que a turma do tenentismo tinha se exilado para nossos vizinhos?
Então, o Prestes tinha dado uns pulos na Bolívia.
Lá, conheceu um maluco chamado Astrojildo Pereira.
Ele foi um dos fundadores do Partido Comunista do Brasil.
Influenciado por Astrojildo, Prestes se tornou mais "vermelho".
O comunista chegou até a entrevistá-lo em um jornal chamado "A Esquerda".
Nome sugestivo, né?
Alguns dizem que foi o A Esquerda que deu para o Prestes o nome de "Cavaleiro da Esperança".
Esse é até o nome de uma biografia que o Jorge Amado fez dele!
Vai tirando...
Depois, Prestes deu uns pulos na Argentina
E se dedicou a leitura de intelectuais comunas.
Gente como Marx e Lenin.
Mais tarde, Prestes se mudou para o Uruguai.
E os comunistas uruguaios sugeriram que ele fosse para a URSS.
Prestes curtiu a ideia.
E assim o fez.
Saiu do Uruguai e meteu as caras em Moscou.
A principio, o PCB cagou para o Prestes.
O pessoal do partido não gostava do que chamavam de "personalismo prestista".
Mas em 1934, depois de se envolver com a galera de Moscou, o próprio pessoal da URSS mandou aceitarem o Prestes.
O cara estava com moral!
E isso me leva ao próximo ponto.
E isso me leva ao próximo ponto.
O PCB era um desdobramento da galera dos movimentos sociais do começo da república do café com leite.
Começou com uma turma que fazia greve no país inteiro.
Essa galera evoluiu para os movimentos socialistas e sindicalistas.
Até que em São Paulo surgiram os anarquistas.
E o que raios é isso?
O anarquista é o cara que é cético em relação à necessidade da autoridade e do poder político.
E esses anarquistas se tornaram os comunistas que fundaram o PCB em 1922.
A ideia por trás do comunismo é o "pós-capitalismo" — propriedade "social", em vez de privada e economia planejada para satisfazer necessidades do povo em vez de lucro.
Para essa galera, um capitalismo justo é tão possível quanto o Peter Pan.
Vou explicar isso com mais detalhes em outro post...
O que você vai precisar lembrar é que o partido logo se tornou ilegal.
E tudo que foi feito depois era "nas sombras".
Os bastidores de Getúlio Vargas em 1930 (Fonte: Acervo O Globo/Reprodução) |
Depois da Revolução de 1930, com o tiozão Getúlio no poder, a repressão ao comunismo aumentou.
E isso iria dar origem a tretas seculares, como você vai ver...
A espiã misteriosa
Quando o Luís Carlos Prestes entrou para o PCB, o partido ganhou um pouco mais de moral.
Deixou de ser um panelinha só ligada à classe operária e passou a contar com uma galera mais diversificada.
A classe média também entrou para o partido.
E a popularidade deu um "up".
Afinal, o Prestes era conhecido pela galera desde o começo do tenentismo.
Nos anos 30, os comunistas e os fascistas saíam na porrada.
Não era como hoje — na época, o fascismo era um movimento organizado e defendido politicamente.
Representado principalmente pela galera da Ação Integralista Brasileira.
A grande estrela do movimento era o Plínio Salgado, em contraste com o Luís Carlos Prestes no lado comunista.
Se você acha que só antas defendiam o fascismo, está redondamente enganado.
Tinha gente do naipe de poeta Vinicius de Moraes no movimento!
É mole?
Os caras da URSS perceberam a ascensão da turma fascista no mundo inteiro.
E tiveram a ideia de criar "frentes populares" para dar uma segurada.
Só que essas frentes só seriam testadas em países mais tranquilos.
Como no Brasil o bagulho é louco, os soviéticos decidiram por uma revolução armada.
E quem delegaram para ser responsável pela revolução em terras tupiniquins?
O Luís Carlos Prestes!
Ele voltou ao Brasil em 1935 com a confiança dos soviéticos.
Junto com Prestes, uma turma de gringos comunas.
Chegaram todos na malandragem, com identidades falsas.
Nessa viagem, o Luís Carlos Prestes também se relacionou com outro pokémon lendário.
Era a Olga Benário.
Uma alemã que vinha de uma família judia.
Membra do Partido Comunista Alemão.
E tinha passado alguns anos na URSS.
Foi enviada junto com Prestes na condição de espiã, com identidade secreta.
A ideia era cuidar da segurança dele.
Os dois não se conheciam, mas acabou rolando uma química na viagem.
E viraram um "mitológico" casal.
Noticia sobre Olga em 1936. (Fonte: Acervo Folha de S.Paulo/Reprodução) |
A ANL e o país incendiado
No mesmo ano, os comunas criaram a "Aliança Nacional Libertadora" em 1935.
Que também contava com intelectuais do nível do historiador Caio Prado Junior.
O Prestes era o presidente de honra.
E a Olga tinha era participativa na organização.
E o porta-voz era um mano que estudava direito chamado "Carlos Lacerda".
Mal sabia ele que o Lacerda se tornaria um dos maiores anticomunistas da história do Brasil.
Ainda seria o cara que iria derrubar Vargas 20 anos depois.
E liderar civilmente o Golpe de 64.
Mas essa transformação do Lacerda ainda não tinha acontecido.
As pautas da ANL eram mais nacionalistas.
Isso passava por alguns pontos, como
- não pagar a dívida pública;
- estatizar empresas gringas;
- fazer reforma agrária;
- criar um governo "popular";
- derrubar o fascismo e o imperialismo.
Esses objetivos coincidiam com os da turma da URSS.
Com o tempo, os manos da ANL abandonaram a ideia de chegar ao poder democraticamente.
E o Lacerda foi, de novo, o mano que comunicou esse anseio.
Por isso, o governo decretou o fechamento da ANL.
Isso deixou os comunas pistolas.
A treta gigantesca resultou em uma tentativa de golpe militar.
Os moldes eram os mesmos do movimento tenentista.
E como no tenentismo, deu ruim.
Os caras se ferraram.
Só que, nesse caso, foi pior.
As revoltas dos militares de esquerda aconteceram em uma pá de lugar no país.
Só que foram vencidas pelas tropas do Vargas.
A ANL foi para o saco.
E o governo criou uma "Comissão Nacional de Repressão ao comunismo".
As aspirações do Getúlio eram bem diferentes de roubar a fórmula do Hambúrguer de Siri ou conseguir as Jóias do Infinito.
Ainda assim, mostrou que conhecia vários sabores de autoritarismo.
Ainda assim, mostrou que conhecia vários sabores de autoritarismo.
Prendendo, por "comunismo", gente como o autor Graciliano Ramos (o mesmo que é cobrado no seu vestibular).
O fim da Olga Benário
Quando a revolução deu ruim, a Olga e o Prestes se esconderam por meses no subúrbio do Rio de Janeiro.
Lá para a região do Méier.
Mas foram encontrados pela turma do Getúlio.
Continua lendo aí que você já vai entender essa bagaça.
A Olga estava gravida do Prestes nessa época.
Olga Benário em 1936. (Fonte: Acervo O Globo/Reprodução) |
A Olga estava gravida do Prestes nessa época.
E os momentos de sua prisão foram acompanhados de perto pelo autor Graciliano Ramos.
Olga foi deportada, ainda grávida, para a terrível Alemanha Nazista.
Detalhe — ela era judia.
A sua filha, Anita Leocádia Prestes, nasceu em uma prisão alemã.
Ela ficou bem.
Se tornou uma bem-sucedida historiadora e produziu uma extensa obra sobre seus pais, com mais de dez livros publicados.
Já a mãe, não teve a mesma sorte.
Olga Benário morreu em uma câmara de gás em 1942.
Localizada no campo de concentração de Bernburg.
Sua breve participação nos conflitos tupiniquins iriam transformá-la em uma espécie de lenda no partido comunista.
Assim como o "cavaleiro da esperança", Olga Benário se tornou uma figura cheia de força e mistério que ainda vai demorar para se esvaziar de significado.
Já Prestes, ficou preso em 1937 com restrições sinistras.
Não podia escrever, se comunicar ou dar sinais de que ainda existia.
Foi como se tivesse ido parar na ilha de Lost.
Ele não foi torturado fisicamente, mas considerava ter sofrido uma "tortura moral" — graças a deportação da Olga.
A esquerda mundialmente intercedeu em seu favor.
Gente do naipe do poeta Pablo Neruda se manifestou pelo cara.
Mas Prestes só pôde sair quando galera do Getúlio saiu do poder.
Isso foi em 1945.
Ele manteve, até o fim de sua vida, uma fotografia da Olga na sua mesa de trabalho.
Ao lado da fotografia de sua mãe e de Lenin.
O lado sombrio do Luís Carlos Prestes
Nem tudo são flores quando se fala de revolução.
Existia uma prática chamada "justiçamento".
Era a ideia de assassinar como um ato de "justiça revolucionária".
Essas mortes não recaíam só para os inimigos do movimento.
Os "companheiros" acusados de traição também eram assassinados.
E um justiçamento tinha sido atribuído ao Prestes.
Esse foi o principal elemento em sua condenação.
Foi decretada a maior pena.
30 anos de prisão.
Na prática, não durou tudo isso por causa da anistia.
Mas a parada aconteceu em 1936.
Enquanto o Prestes e a Olga estavam escondidos no Méier, fugindo da polícia do Getúlio.
Tinha uma adolescente chamada Elza Fernandes.
De apenas 16 anos.
Era analfabeta e entrou para o PCB em 1934.
Com o tempo, os comunas desconfiaram que ela trabalhava para a polícia.
E que estava junto com a turma do Getúlio.
Do esconderijo do Méier, o Prestes ficou sabendo dessas fofocas.
Se comunicava por cartas com a galera.
Conheceu o "assunto garota".
E teria sido um dos mentores do justiçamento.
A Elza foi assassinada pelos camaradas em 1936.
E Prestes foi condenado, já na cadeia, pelo crime em 1940.
Ele sempre se defendeu da acusação.
Dizendo que quem incitou o assassinato foi o partido, não ele.
O historiador comunista Jacob Gorender diz que Prestes mentiu sobre o assunto.
E ainda é mais categórico.
Segundo ele, Prestes orientou o julgamento, deu ideias para o interrogatório e aprovou a morte da adolescente.
E o pior:
A traição da Elza era falsa.
Para Gorender, a sentença de morte foi dada graças a teimosia e "falta de sensibilidade" do líder comunista.
O legado
Depois da prisão, Prestes voltou logo a política e passou a ser o manda-chuva do PCB.
Um dos primeiros posicionamentos dele pós prisão foi um pouco inusitado e deixou uma galera bugada.
Se você fosse chutar uma postura do Prestes em relação ao Getúlio, apostaria no apoio ou no repúdio?
Aposto que você vai chutar "repúdio".
Se esse é o seu chute, você está errado.
O que aconteceu foi justamente o contrário.
Se você fosse chutar uma postura do Prestes em relação ao Getúlio, apostaria no apoio ou no repúdio?
Aposto que você vai chutar "repúdio".
Se esse é o seu chute, você está errado.
O que aconteceu foi justamente o contrário.
O Prestes se aliou ao movimento "queremista" — que queria manter o Getúlio no poder.
A explicação era política.
Chegou a explicar isso em uma entrevista.
Na qual, diz que "os interesses da humanidade estavam a frente dos sentimentos pessoais".
Prestes achava que a aliança com a turma do Getúlio era a melhor forma de livrar o Brasil do nazismo.
Chegou até a cogitar aliança com os polêmicos conservadores da UDN.
Dá até uma bugada, né?
Prestes se tornou senador por um tempinho.
Assim que as pautas da Guerra Fria começaram a pintar por aqui, as tretas voltaram.
O PCB voltou para a ilegalidade.
E o mandato dos comunas foi cassado.
O pessoal do governo, agora nas mãos do Dutra, tinha um puta cagaço da URSS.
E endureceram o discurso anticomunista.
Só depois que o Prestes firmou parceria com o tiozão Juscelino Kubitschek, as coisas se acalmaram.
Os comunistas conseguiram até fazer um congresso de boas, sem policiais enchendo o saco.
Mas ainda não conseguiram tirar a galera da ilegalidade.
Depois do golpe de 64, as coisas pioraram.
Os próprios comunistas se desentenderam com Prestes.
O partido se dividiu em dois.
Uma ala mais radical e favorável a luta armada, ligada ao Carlos Marighella.
E outra mais de boas, apoiando a figura do Prestes.
Quando rolou o famoso "AI-5" , a parada ficou ainda mais tensa.
O Prestes foi condenado a prisão por tentar "reorganizar o partido".
E a repressão começou a pegar fogo.
A galera do comunismo sacou que a melhor coisa era sair do Brasil.
Prestes vazou daqui e rodou a Argentina, a França e a URSS.
Depois de oito anos fora, voltou em 1979.
Graças à anistia.
Dessa vez, trazia um olhar mais maduro e fortemente crítico aos rumos que o comunismo tinha tomado no Brasil.
Não poupou e falou mal dos caras.
Acabou perdendo o cargo de secretário-geral do PCB.
E o partido continuava na ilegalidade.
Prestes percebeu que não dava simplesmente para conjurar um patrono e mudar o país magicamente.
Pôs o pé no freio do radicalismo.
E começou a fazer política.
Luís Carlos Prestes em entrevista de 1987 |
Prestes percebeu que não dava simplesmente para conjurar um patrono e mudar o país magicamente.
Pôs o pé no freio do radicalismo.
E começou a fazer política.
Se associou à galera do PDT.
Um partido que existe até hoje.
Você deve lembrar desse partido por causa do Ciro, mas na época a estrela era outra.
O tiozão Leonel Brizola.
Outra figura interessantíssima que vai merecer um post.
Prestes iria demonstrar apoio a ele até para as eleições de 1989.
Aquela que o Lula e o Collor saíram na porrada.
Ele se engajou na campanha do Brizola.
E quando o Brizola foi derrotado, apoiou Lula no segundo turno.
Prestes morreu em 1990 aos 92 anos.
No dia de sua morte, o partido comunista finalmente saiu da ilegalidade e pôde ser registrado na Justiça Eleitoral.
Eu sei que tá legal, mas o post de hoje termina por aqui.
Tenha em mente que quando falo do Luís Carlos Prestes, não estou bancando o professor, certo?
Este texto não é acadêmico, mano!
Tem várias simplificações aqui e o blog é voltado a explicar coisas sem firula!
E você?
Curtiu o texto?
Então, comente aí para dar uma moral : )
Fontes FGV FGV
Combate nas Trevas, Jacob Gorender
História Concisa do Brasil, Boris Fausto
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