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Hy Brasil: teria um monge irlandês descoberto o Brasil quase 1000 anos antes de Cabral?

O termo "Brasil" aparece em mapas muito antes do descobrimento oficial (Fonte: Eaudrey/Reprodução) 

Conheça a mística lenda celta do monge misterioso que partiu em busca de uma paraíso secreto e acabou se deparando com a fabulosa "Ilha do Brasil" alguns séculos antes de Cabral

Todo mundo aprendeu na escola a história do descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral, não é?

E o termo “Brasil”, fruto do Pau-Brasil.

Aposto que deu até um mal-estar em lembrar das aulas e provas da escola.

Calma, o papo aqui vai ser diferente.

E se eu dissesse que o Brasil, ou Hy Brasil, foi uma ilha misteriosa que apareceu em antigas lendas celtas e já pinta em mapas desde antes do Cabral nascer?

E que foi descoberta à lá Nathan Drake por um monge irlandês chamado São Brandão?

Parece coisa de doido?

Peraí que eu vou explicar essa história direitinho.

Vem comigo...

Brasil nos mapas antes de Cabral

Pode parecer inusitado, mas o termo “Brasil” aparece em mapas muito antes da descoberta do Cabral.

Há várias cartas geográficas que põem a “ilha do Brasil” no meio do oceano.

Vai vendo…

Mapa de Dalorto (Fonte: Angelino de Dalorto/Domínio público)

Bom, a localização não é muito exata, o que já rendeu o nome de “ilha movediça”.

O “Mapa de Dalorto” de 1325, por exemplo, põe o Brasil entre a Inglaterra e a Noruega.

A “Ysola de Mayoatlas seu de Bracir” (outra legenda para se referir à ilha) surge na altura das Ilhas Britânicas no Mapa de Picignano de 1367.

Inusitado, não é?

Outros documentos colocam o Brasil perto da Península Ibérica e alguns chegam a deixá-la entre o cabo de São Vicente e a Irlanda.

Essas referências existem, pelo menos, desde 1325, mais de 150 anos antes da descoberta do Cabral.

Surpreendente?

A história não para por aí...

A metáfora do paraíso terrestre

Antes de contar como a história da Ilha do Brasil funciona, é preciso pegar um pouco do contexto.

O que isso significa?

Você vai ver…

Como o autor Gustavo Barroso esclarece no livro “O Brasil na Lenda e na Cartografia Antiga”, as ideias de um paraíso terrestre existem em vários povos antigos.

Uma curiosidade: Barroso era um líder integralista!

Veja o post em que conto mais sobre esse movimento.

A cartografia antiga é repleta de mistérios (Fonte: Messy Nessy Chic/Reprodução)

Os egípcios tinham a Hotep, enquanto os hindus têm a Uttarakuru — um país que não neva, não chove e é repleto de rios de ouro — e os gregos tinham os Campos Elísios.

Percy Jackson e Kratos mandaram um alô!

Até Eldorado cai nesse papo!

Interessante, não é?

Acontece que uma pá de gente na antiguidade usava essas histórias para povoar buscas reais a cidades e paraísos perdidos.

Muito disso é fundamentado no mito grego de Atlântida, inaugurando uma era de histórias de ilhas fantasmas.

Continua a leitura que você já vai entender...

A suspeita de um novo continente

Boa parte da suspeita da existência de um continente ocidental vinha das antigas histórias.

O próprio Platão dizia que a Atlântida havia afundado no Mar de Sargaços, perto de onde hoje fica a América do Norte.

Os primeiros habitantes da América são fonte para controversos documentários (Fonte: Travel Channel/Divulgação)

Os fenícios chegaram a procurar o novo continente e teóricos da conspiração controversos como o geólogo forense Scott Wolter afirmam que eles encontraram.

Mas isso é papo para outro post…

Plutarco chegou a citar uma terra ocidental governada por Cronos, o titã da mitologia grega.

O que raios isso tem a ver com o Brasil?

Calma, xacomigo, eu explico.

A inspiração Atlântida gerou infinitas lendas de ilhas perdidas.

Ilha de Salomão, Antilia, Man Satanaxio, Gorgonum insulis, Eternas, YMA e por aí vai.

Coisa de doido esses nomes, não é?

O Indiana Jones teria trabalho por aqui.

Entre essas histórias, uma das que mais se destacou e ganhou espaço em antigos mapas é a Ilha do Brasil.

Agora o papo fica mais interessante...

Atlântida tupiniquim

O nome “Hy Brasil”, ou Ilha de São Brandão, aparece nas lendas de “ilhas invisíveis” ou “não encontradas”.

É citada na lenda celta de “Peregrinatio Sancti Brandani”, do século IX, contada em várias versões.

A localização da ilha variou bastante ao longo dos mapas (Fonte: Cresques Abraham/Domínio Público)

O relato é sobre o monge irlandês São Brandão, que teria viajado para o ocidente quando tinha 105 anos.

É mole?

E você aí se sentindo velho!

A viagem acontece no ano 565.

Escolheu a dedo quatorze outros monges para fazer companhia na empreitada.

Depois de uma longa viagem em que cruzou várias ilhas, chegou em uma terra fantástica, repleta de “bosques, rios e prados floridos”, além de “animais isentos de pecados”.

Depois de oito anos curtindo de boas a ilha, voltou guiado por um lindo pássaro.

Vai vendo...

Explicações para o nome

Aposto que você está se perguntando como a lenda se relaciona com o Brasil de hoje.

O papo celta desperta várias polêmicas na historiografia brasileira.

Assim como a misteriosa YMA — que despertou expedições em sua busca — a Ilha de São Brandão estava presente na cartografia portuguesa antes de Cabral.

A ilha continua despertando polêmica (Fonte: Messy Nessy Chic/Reprodução)

Interessante, não é?

Na língua celta, o “Ho Brasile” ou “Hy Brasil” seria a denominação para a lenda.

O radical “Bra” é “belo” ou “esplêndido”.

A ideia faria sentido para a “ilha bem-aventurada” e seria uma tradução levando em conta a língua local.

Dá para acreditar?

Para Gustavo Barroso, a lenda desafia a visão tradicional de que o nome do Brasil tem origem no pau-brasil e abre uma nova corrente historiográfica com base na Hy Brasil.

Tá aí uma coisa interessante para você contar a seu professor de história!

Bom, não há consenso historiográfico se o lugar da lenda era o nosso país descoberto com séculos de antecedência, alguma ilha europeia batizada com esse nome ou simplesmente um lugar fictício.

O que isso quer dizer?

Pense da seguinte forma.

A lenda do monge São Brandão é parecida com várias outras lendas celtas, como a de Bran, filho de Tebal, que sai em busca do "país das fadas" e topa com uma ilha cheia de mulheres — além de inúmeras outras lendas europeias sobre lugares paradisíacos, o que torna a análise mais difícil.

Um outro ponto é o fato da ilha ser "movediça" e aparecer em vários lugares diferentes ao longo dos mapas, diminuindo a precisão dos relatos.

Por fim, há a possibilidade da ilha ser fruto de um simples erro de escrita, comum em vários mapas da época.

A misteriosa “Man Satanaxio” ou “Mão do Satanás”, por exemplo, não é nada mais que um erro na grafia de “Santo Anastacio”, assim como a francesa “Fernambourg” é um erro na grafia de “Pernambuco”.

Sim, a escrita dos antigos mapas era horrorosa.

Alguns erros despercebidos e era possível você ver um filme chamado “Indiana Jones em Busca do Segredo de Fernambourg”.

É um belo assunto para conversas de bar, não é?

E aí?

Curtiu o texto?

Então, comenta aí para dar uma moral! = )

Fonte: O Brasil na Lenda e na Cartografia Antiga, Gustavo Barroso

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